terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Leva-me.


Sabes, por vezes estou assim, vazia num espaço vazio. E desejava ser alguém como tu. Não existindo vida em mim que me morresse, não existindo calor em mim que me aquecesse, não existindo brilho em mim que me iluminasse. Por vezes, gostaria de estar assim, deitada no nada, a cheirar a podridão que emana do silêncio, a sentir o vento que corta o meu corpo de 'faz-de-conta'. Gostava de ser o nada e vaguear pelos espelhos partidos. És um vulto, és uma sombra. Não exististes, mas respiras. É pena não poder ser como tu, é pena não poder ser o que tu és. Algo que não existe, algo perfeito, sem sentir dor, ou frio, ou calor. É pena que o teu aroma putrefacto seja apenas uma ilusão, é pena que seja apenas algo...espectral.
Sabes, por vezes estou assim, vazia num espaço vazio. Contemplo muitas vezes o silêncio, e gosto tanto de ouvir a escuridão. Os seus murmúrios. Por vezes, tímidos sons perturbam a veracidade dos mortos, pequenos passos que pisam o sangue que foi derramado, o meu sangue que apodrece no chão decomposto pelas almas que foram abandonadas.
E tu és assim. Não te vejo, mas sinto-te bem dentro de mim. E às vezes oiço-te a chamar-me. Tudo tem o seu tempo. Irei ter contigo brevemente. Até lá, continua a assombrar os meus sonhos. Enche-os de dor e de sangue, pisados por ti.
(...)
E desapareces em mim. Consome-me. Mata-me. Morre-me. Leva-me. 


 Ao som de VULTURE - Hidding

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